Foto: Joice Santiago
No último dia 2 de setembro aconteceu a quinta edição da já tradicional Feira Agroecológica das Mulheres Contra a Violência, na cidade de Camamu (BA), com apoio de várias organizações e movimentos sociais. Esta feira surgiu da necessidade das mulheres negras quilombolas, agricultoras, pescadoras, marisqueiras e extrativistas em afirmar sua capacidade produtiva, conquistar espaço para realizar comercialização e defender suas bandeiras. A bandeira que foi abraçada por este coletivo desde seu início, foi e é algo que assola a nós todas, de forma direta ou indireta: a violência contra as mulheres.
Escrever sobre a experiência de mais uma edição desta feira me coloca em um momento de nostalgia e esperança, pois começamos com a participação das comunidades de Camamu, aproximadamente 80 pessoas, hoje, na quinta edição, tivemos aproximadamente 300 agricultoras e a circulação de mais de 500 pessoas. Então é falar de dentro deste movimento que junta mulheres dos movimentos sociais, das organizações da sociedade civil, sindicatos e demais grupos, e nos coloca como companheiras na construção das mudanças.
Foto: Joice Santiago
A feira de agroecológica de mulheres surgiu em 2012 com o objetivo de manter essas comunidades atentas à questão da desigualdade de gênero em suas diferentes expressões, criando, simultaneamente, oportunidades para que as mulheres – muitas vezes excluídas da partilha dos dividendos da pequena produção agrícola – pudessem comercializar bens que são fruto de seu trabalho. Em 2014, produzimos um vídeo sobre a feira que pode ser acessado aqui.
Infelizmente o problema da violência contra as mulheres na região do baixo sul da Bahia ainda está longe de ser superado – ver “Narrativas sobre violência contra mulheres no Baixo Sul da BA”. Embora as cidades da região não estejam nos mapas de violência, no cotidiano das mulheres a violência ainda é muito presente. O distanciamento dos centros urbanos, a falta de atendimentos de qualidade tanto nas delegacias, como os aparelhos públicos de atendimento as mulheres, contribuem para que estes casos não sejam registrados e passem a alimentar os índices coletados em nosso país. Só exemplificando, no início deste ano tivemos uma companheira assassinada e violentada numa comunidade, além das constantes narrativas de violência física, patrimonial e principalmente psicológica. Mas não estar sozinha ajuda e muito...
Temos durante estes anos criado espaços de diálogo, acolhimento e apoio entre as mulheres e essa feira, que já entrou para calendário da cidade, é o ápice da publicização do que temos feito. É na feira que cada comunidade traz além de sua produção, suas apresentações culturais, suas falas motivadoras, seus sonhos de autonomia econômica se mostram possíveis e palpáveis. A feira é muito mais do espaço de venda, é espaço de troca e de esperança.
Foto: Joice Santiago
Muito samba de roda, muitos sorrisos partilhados, muitos sonhos visitados e explicitados. Esse é o resumo de mais uma feira das mulheres. Aproveito para finalizar com o trecho de uma música cantada pelas mulheres da comunidade quilombola de Jetimana, localizado no município de Camamu (BA): “... acabou a brincadeira, as mulheres de hoje em dia já mandam é na casa inteira”.
Ana Gualberto - Historiadora; Mestranda em Cultura e Sociedade – UFBA; Editora do Observatório Quilombola; Coordenação – Assessoria a comunidades negras tradicionais
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