quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Encontro de Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro

Entre os dias 10-12 de agosto, estive em mais um Encontro das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro. Este foi o quinto encontro e reuniu, aproximadamente, 120 quilombolas. 

Há dois anos eu mudei de vez para Bahia e, desde 2015, KOINONIA não está realizando projetos especificamente em comunidades do Rio de Janeiro. Isso faz com que estejamos mais ausentes do cotidiano dos quilombolas. Apesar disso, as relações que foram estabelecidas ao longo de mais de 15 anos de trabalho, não se abalam com a distância geográfica. 

Nosso reencontro foi marcado por abraços, sorrisos, histórias revividas e promessas que não vou conseguir colocar tudo nesse curto texto. Por isso, minha ideia aqui é compartilhar os momentos potentes vivenciados nesses três dias de construção coletiva. 

Ana Gualberto 


Conhecer mais uma comunidade quilombola e jongueira! 

A maioria dos quilombolas presentes no encontro não conheciam o território da comunidade de Machadinha. A comunidade quilombola de Machadinha se estruturou a partir da Fazenda Machadinha, que funcionou até 1924. Após essa data, a fazenda acabou se tornando patrimônio da prefeitura de Quissamã - como pagamento de dívidas públicas, e até hoje é a prefeitura quem administra suas terras. 


Jongo de Machadinha - Foto: Ana Gualberto

Os quilombolas permaneceram no território, incluindo as senzalas, mantendo as práticas agrícolas e culturais, que incluem o jongo e o fado. A comunidade se divide em Machadinha e mais quatro núcleos: Bacural, Santa Luzia, Boa Vista e Mutuma. Estas áreas foram adquiridas por compra e por doação, no caso de Santa Luzia. Mesmo com esta divisão geográfica, o grupo é unido na identidade de remanescentes de quilombo de Machadinha, já que seus ancestrais trabalharam na fazenda e a compreensão do território articula esses cinco núcleos. Para saber mais sobre Machadinha, acesse o verbete da comunidade no  Atlas Quilombola

Senzala da Fazenda Machadinha - Foto: Ana Gualberto

Momento de planejar e avançar! 

Esse encontro marcou e comemorou os 15 anos de existência da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Rio de Janeiro (ACQUILERJ), que foi fundada em 2003 e tem como principais objetivos: 1) lutar conjuntamente com as comunidades quilombolas pela titulação das terras em cumprimeiro ao Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da nossa Constituição Federal de 1988; 2) realizar, sistematicamente, cursos de capacitação de lideranças, com efeito multiplicador; 3) trabalhar pelo desenvolvimento das comunidades quilombolas, levando em consideração a preservação ambiental; 4) lutar pela preservação da identidade cultural das comunidades quilombolas; 5) atuar em cooperação com outros grupos, quilombolas ou não, em todo território nacional; 6) estabelecer intercâmbio, contratos e convênios com organismos públicos, privados, nacionais ou estrangeiros, objetivando a consecução dos seus objetivos; 7) desenvolver programas ou projetos e ministrar cursos de capacitação profissional. Você também pode acompanhar as ações da entidade através da página do Facebook: Acquilerj Quilombo

Durante o encontro, uma nova diretoria foi eleita, contando com mais de 60% de mulheres e 30% de jovens, Um marco desse encontro foi a participação dos jovens, que pautaram a criação de um Diretoria de Juventude, que pretende realizar ainda esse ano, um encontro de jovens quilombolas para definir ações conjuntas e prioritárias.

O coletivo de mulheres também pautou a realização de um encontro das mulheres quilombolas para debater suas especificidades e prioridades, além de aprofundar ações de combate a violência contra mulheres e na promoção da equidade de gênero. 

Roda de conversa - Foto: Ana Gualberto

Quilombolas e eleições! 

Durante o encontro, o tema das eleições também foi debatido. Foram apresentadas duas candidaturas para deputado estadual: 1) Ronaldo Santos - do quilombo Campinho da Independência (Paraty); 2) Franklin Quilombola - do quilombo de São Benedito (São Fidélis). 

Desejamos que os dois sejam eleitos, já que a pauta das comunidades quilombolas nunca foi prioridade no Rio de Janeiro e temos apenas três comunidades tituladas em todo o estado. Acreditamos que com a eleição deles, seja possível avançar na construção de uma legislação que responsabilize o estado pela titulação dos territórios quilombolas. Esse é o desejo de todos nós, que atuamos com as comunidades e, principalmente, das lideranças quilombolas que estão há anos lutando para avançar nos processos. 

CONAQ - Foto: Ana Gualberto

Ana Gualberto
13 de setembro de 2018.



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