Faz tempo que eu estou tentando voltar com a nosso Caderno de Campo. Foram várias as ideias que eu troquei com minha parceira Ana Gualberto sobre o que escrever para abrir o ano de 2017, mas o danado do texto nunca saia.
Entre lá e cá, colocando a leitura dos meus e-mails em dia, me deparei com uma mensagem encaminhada pelo antropólogo José Augusto Laranjeiras Sampaio para o grupo GT Quilombos, do qual faço parte. A mensagem original foi enviada por Sheila Brasileiro e diz o seguinte:
“Olá, pessoal!Dona Dandinha, a simpática senhora das fotos abaixo, é uma das fundadoras do quilombo Pitanga dos Palmares, situado em Simões Filho. Ela está muito debilitada e necessita com urgência de uma cadeira de rodas. Pode ser usada. Contato: Flávio Pacífico ("Binho do quilombo", presidente da Associação Quilombola de Pitanga dos Palmares)”
Dona Berna e Dona Dandinha: Simões On Line News
Na mesma hora, mandei uma mensagem para Ana Gualberto em Salvador e propus que fizéssemos uma vaquinha virtual para arrecadar a grana e comprar uma cadeira de rodas para Dona Dandinha. Para quem quiser contribuir, ainda dá tempo. Aqui está o link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/cadeira-de-rodas-para-dona-dandinha
Dona Dandinha – Simões On Line News
De acordo com os dados da Fundação Cultural Palmares, existem três comunidades certificadas na cidade: 1) Dandá (2002); 2) Pitanga dos Palmares (2004); 3) Rio dos Macacos (2011).
Sobre o quilombo de Dandá, em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu a comunidade quilombola como locação para a filmagem de um documentário (Brazil: The StoryofSlavery) sobre a atual situação dos descendentes de escravizados. A iniciativa faz parte do projeto “2015-2014 – Década Internacional dos Afrodescendentes”.
O quilombo de Rio dos Macacos é o mais famoso da região de Simões Filho. Isso por conta do conflito que os quilombolas vivem com a Marinha do Brasil. Em 2012, um dossiê de Violações de Direitos Humanos foi apresentado na Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciando as arbitrariedades cometidas contra os quilombolas. Para conhecer melhor o caso, vale a pena assistir do documentário “Quilombo Rio dos Macacos”.
Com relação ao quilombo Pitanga dos Palmares, além de certificada pela Fundação Cultural Palmares em 2004, a comunidade iniciou o processo administrativo pela titulação de seu território no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em 2008. Porém, até hoje, o processo ainda não foi finalizado.
Pitanga dos Palmares destaca-se através de dois grupos de mulheres: as artesãs que trabalham com a piaçava e as bordadeiras que produzem peças maravilhosas em ponto de cruz.
Maria Cândida dos Santos, nossa Dona Dandinha (81 anos), é uma mulher quilombola guerreira. Durante muito tempo, ela sobreviveu através da produção manual do azeite de dendê e é considerada pela comunidade como uma das “guardiãs” da cultura local. Flávio Pacífico, o Binho do Quilombo, compôs uma música em sua homenagem chamada “Música do Pilão”.
Dona Dandinha foi casada com Matias dos Santos, o grande mestre do Samba de Viola da localidade. Nas festas de São Gonçalo do Amarante, o santo dos agricultores e padroeiro da comunidade, o samba de viola anima a todos. O grupo é composto por 18 sambadeiras e 12 tocadores. Dona Dandinha era a sambadeira mais velha da comunidade.
Infelizmente, ela foi diagnosticada com DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, o que torna sua respiração muito difícil. Dona Dandinha está tentando receber o oxigênio pelo SUS – Sistema Único de Saúde, mas enquanto a liberação não chega, os familiares estão pagando com seus recursos. Além do oxigênio, ela também necessita de uma cadeira de rodas para melhorar sua qualidade de vida. Diante do tanto que essa mulher representa, acho que o mínimo que podemos fazer é ajudá-la. Por isso, essa primeira página do Caderno de Campo de 2017 é dedicada a ela.
Tenho fé nos orixás, em São Gonçalo do Amarante e conto com a ajuda de vocês. A cadeira de rodas vai chegar em Pitanga dos Palmares para Dona Dandinha!
Até mais!
Daniela Yabeta - Pós-Doutoranda em História (UFF - FAPERJ); Editora da Revista do Observatório Quilombola
Dona Dandinha – Casa do Samba Dona Alvina
Daniela Yabeta - Pós-Doutoranda em História (UFF - FAPERJ); Editora da Revista do Observatório Quilombola
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