Como
vocês bem sabem, eu e Ana somos nascidas e criadas no subúrbio do Rio de
Janeiro. Hoje, Ana mora em Salvador (BA) e eu estou de partida para Rolim de
Moura (RO), mas nosso coração pertence a essas bandas, não tem jeito. Daí que
circulando pela vizinhança, resolvi escrever sobre um local de grande
referência: a praça Rubey Wanderley, mas conhecida como “Largo do Bicão”.
MultiRio
Apesar
de tantos anos passando pela localidade, me dei conta de que não sabia quem foi
Rubey Wanderley, assim como também não sabia se existia realmente uma bica
grande na tal praça. Decidi então, caminhar pelo largo de forma mais atenta e
pesquisar notícias sobre seu patrono. Descobri que o mesmo foi um jornalista e
escritor. Um dos editores do jornal O
Radical. Em 01 de junho de 1939, foi publicada uma foto intitulada “A família de O Radical”, onde podemos
encontrar Rubey Wanderley sentado de paletó escuro, óculos e gravata.
O Radical - 01 de junho de 1939
Sobre
a existência da bica (ou bicão), posso garantir que ela está realmente lá. De acordo com matéria publicada
no jornal Extra de 05 de maio de
2012, Evando dos Santos, o fundador da Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de
Menezes – localizada próxima ao Largo do Bicão, a tal bica foi instalada a mando
de D. Pedro II, que passou pela localidade e percebeu que a região precisava de
uma fonte de água. Já Carla Araújo, em matéria publicada no site MultiRio,
conta a história de que a construção da grande bica ocorreu por volta de 1900,
quando o Rio de Janeiro sofria com falta de abastecimento de água. Sua finalidade era atender a demanda dos residentes.
Daniela Yabeta
Mas
o que me deixou estupefata foi a afirmação de Evando dos Santos, profundo
conhecedor da história local, de que o Largo do Bicão abrigou durante algum
tempo um quilombo. Não encontrei maiores informações sobre a existência dessa
comunidade, mas o interessante é que bem próximo ao Largo do Bicão temos um
bairro chamado Quitungo, termo quimbundo que, de acordo com Rento
Mendonça em “A influência africana no portuguêsdo Brasil”, significa gongá –
cestinha com tampa. Em 26 de julho de 1876, encontrei no periódico Diário do Rio de Janeiro uma referência
a localidade. Trata-se de um relato sobre o julgamento de um crime ocorrido na
freguesia do Irajá, no lugar “denominado Quitungo”.
Diário do Rio de Janeiro, 26 de julho de 1876
De
qualquer forma, percebemos que a história do Largo do Bicão remete a um local
de sociabilidade e ainda hoje é assim. Apesar de não dispor mais do
abastecimento de água, o local possui um moderno parque de skate que foi
inaugurado em 2012.
Após
essa breve pesquisa, passar pelo Bicão tomou outro significado. Fico pensando
em quem frequentava o largo em busca de água, como era o Quitungo no século
XIX, quais foram as primeiras famílias que habitaram a região, entre tantas
outras coisas mais. O subúrbio é realmente um lugar rico de histórias e merece cada vez
mais ser investigado. Para quem não conhece o Largo do Bicão, é uma grande
referência para chegar até o Polo Gastronômico de Vista Alegre. No Bicão encontramos uma placa ótima indicando o caminho a seguir.
Daniela Yabeta
Daniela Yabeta
Historiadora - Pesquisadora Pós-Doc FAPERJ/UFF