terça-feira, 11 de julho de 2017

IPN e Quilombo da Pedra do Sal: outros patrimônios da humanidade

O Caderno de Campo dessa semana veio para celebrar o reconhecimento do Cais do Valongo como Patrimônio Cultural da Humanidade, através do Comitê do Patrimônio Mundial, ligado a Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). 

Estou muito orgulhosa de ter participado de uma das etapas da elaboração do dossiê de candidatura. Essa conquista envolveu muita gente, mas faço questão de destacar o grupo com o qual trabalhei, formado por Milton Guran, Mônica Lima, João Maurício Bragança e Cláudio Honorato. 

Dentro dessa conversa toda em torno do Cais, vale lembrar que ele esta inserido dentro de um complexo conhecido como "Pequena África". Sendo assim, considero que para entender a sua magnitude, é muito importante conhecer também dois pontos localizados próximos ao Cais: O Instituto Pretos Novos e o Quilombo da Pedra do Sal.

Pretos Novos era o nome dado aos africanos escravizados que desembarcavam em território brasileiro. Com relação ao Cais do Valongo, os que não sobreviviam a viagem, ou morriam logo depois de chegarem no Rio de Janeiro, eram depositados em valas comuns. O cemitério funcionou entre 1769-1830 e ficou escondido até 1996, quando a proprietária da casa construída sobre ele, Merced Guimarães, encontrou restos mortais durante uma reforma no imóvel. É lá que funciona hoje o Instituto Pretos Novos, administrado pela própria Merced e seu marido Petruccio Guimarães. Há poucas semanas através, foi encontrado o primeiro esqueleto completo nas escavações realizadas no local. Trata-se de uma mulher de aproximadamente 20 anos, que foi batizada pelos pesquisadores como Josefina Bahkita, em homenagem a primeira santa africana da igreja católica. Apesar da importância história do cemitério, o IPN passa por um momento de falta de recursos e ameaça fechar suas portas. 

Sobre o Quilombo da Pedra do Sal, ele foi certificado como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares em 05 de dezembro de 2005 e em 22 de julho de 2014, através da Lei 5781, foi reconhecido como Área de Especial Interesse Cultural. 

Os quilombolas da Pedra do Sal lutam desde 2005, através de processo aberto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), pela titulação de seu território. Sua história de resistência remonta ao período do tráfico negreiro na região. 

Durante minha pesquisa para o dossiê do Cais do Valongo, encontrei vários anúncios como esse que segue. O que nos mostra a movimentação da região envolvendo desembarques de africanos escravizados, fugas, comércio, mortes e etc. 

Diário do Rio de Janeiro: 06 de outubro de 1823


Portanto, deixo aqui o meu registro de alegria pela conquista do reconhecimento do Cais do Valongo, sem jamais esquecer que é necessário manter o Instituto dos Pretos Novos funcionando, assim como garantir titulação do território quilombola da Pedra do Sal. 

Segue o baile. 


Daniela Yabeta
Historiadora - Pós-Doc História UFF/FAPERJ

2 comentários:

  1. Parabéns Dani, pelo texto... e também pelo privilégio de ter tua companhia nesta empreitada!!! Grande Beijo... espero que a vida possa nos proporcionar novas experiências como essa! ;)

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    1. Que ótimo ter você por aqui, João! Ficamos na torcida! Parabéns pelo seu maravilhoso trabalho!

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